7º FÓRUM FALE SEM MEDO ABORDA OS IMPACTOS REAIS CAUSADOS PELAS VIOLÊNCIAS VIRTUAIS
Evento contou com painéis e apresentação de pesquisa inédita sobre a violência real do mundo virtual.
Um dos mais importantes eventos do calendário de ações dos 21 Dias de Ativismo, o 7º Fórum Fale Sem Medo, realizado em 25 de novembro, trouxe à pauta um tema tão atual quanto urgente: a escalada da violência contra mulheres e meninas nos meios digitais, especialmente no contexto de isolamento social, e possíveis soluções para o enfrentamento dessa questão.
Ao abrir a cerimônia, Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon, refletiu sobre as profundas transformações geradas pela pandemia, seus reflexos em nossa sociedade e o recorte dessa realidade, sob o prisma do universo virtual. “No que diz respeito à igualdade de gênero e violações dos direitos humanos, o período da pandemia tem sido um fardo para mulheres e meninas e uma vergonha para todos nós. Se a saúde física dos nossos concidadãos foi mortalmente ameaçada com sequelas físicas e emocionais duradouras, a saúde moral de nossa sociedade, se medirmos a nossa capacidade de reduzir inequidades, passa pela fase aguda de uma moléstia crônica”, afirmou.
Antes dos painéis, foram apresentados os dados da pesquisa “Muito além do Cyberbullying: a violência real do mundo virtual”, realizada pelo Instituto Avon em parceria com a Decode, empresa especializada em ciência de dados, com o objetivo de mensurar a violência de gênero na internet. “Quando falamos de violência virtual, falamos de uma exposição muito grande da vítima. Diferente de uma violência no meio físico, que há uma limitação de alcance, quando falamos do virtual perdemos totalmente o controle de onde essa violência pode chegar e quanto pode durar”, pontuou Luiza Pirani, head de Estratégia da Decode.
Os impactos reais das violências virtuais
Reconhecer, identificar e agir diante das violências foram os pilares dos três momentos do Fórum Fale Sem Medo. O primeiro deles, “Os impactos reais das violências virtuais”, foi conduzido por Beatriz Accioly, coordenadora de pesquisa e impacto no Instituto Avon, que recebeu Mariana Valente, diretora do InternetLab e professora no Insper, e Barbara Paes, cofundadora do Instituto Minas Programam. “Apesar dos ganhos que alcançamos enquanto sociedade com o advento e a popularização das tecnologias digitais, podemos comprovar com os dados da pesquisa que, na prática, a internet costuma ser um lugar perigoso para as mulheres. Precisamos debater como fazer dela um espaço mais inclusivo, democrático e seguro”, analisou Beatriz.
Para Mariana Valente, a atuação das plataformas digitais é fundamental na busca por uma internet mais segura para as mulheres. “É muito comum observar que as plataformas priorizam algumas jurisdições e países em detrimento de outros, principalmente quando falamos de países mais importantes economicamente. Mas para as mulheres que sofrem a violência, não faz diferença se elas estão em um país mais ou menos desenvolvido. Inclusive, uma maior vulnerabilidade pode ser considerada como um maior risco”.
Ao analisar sobre como as tecnologias digitais são hoje uma forma de poder, Barbara Paes reforçou a importância de se questionar para quem elas são feitas e quais são os valores embutidos nelas. “Temos que pensar o design de novas tecnologias e a programação como ferramentas emancipatórias que possam sustentar os direitos das pessoas mais marginalizadas da nossa sociedade”.
Misoginia e tecnologia: intersecções nas redes
Após a apresentação da cantora Mariana Aydar, teve início o segundo painel, “Misoginia e tecnologia: intersecções nas redes”, mediado por Regina Célia Barbosa, gerente de causas do Instituto Avon, e com as participações de Lola Aronovich, professora da Universidade Federal do Ceará, pedagoga, blogueira e ativista, e Joana Varon, diretora executiva da Coding Rights.
“A promoção dos direitos da mulher na busca pela igualdade de gênero e a repressão a quaisquer discriminações devem ser nosso ponto de partida no debate sobre a misoginia e a tecnologia no contexto da violência contra a mulher”, iniciou Regina.
Vítima de diversos ataques misóginos em razão do conteúdo feminista do seu blog, Lola Aronovich afirmou que desconhecia esse nível de ódio contra mulheres antes da sua presença na internet. “Talvez em razão do anonimato, eles se sentem impunes, mas não estão”. A luta dela e de outras mulheres levou à criação da Lei 13.642, batizada com seu nome, que exige que a Polícia Federal investigue crimes contra mulheres na internet. Fechando o painel, Joana Varon falou sobre como nossos direitos podem ser assegurados não apenas por códigos da legislação, mas também por códigos da programação, dentro do contexto da tecnologia. “Para implementarmos qualquer um desses códigos, o que há por trás são brigas de poder. A missão da Coding Rights é ‘hackear’ o patriarcado por esses dois tipos de códigos”.
O uso das redes para apoio, segurança e cura às vítimas de violência
Finalizando o Fórum Fale Sem Medo 2021, Erica Olsen-Shaver, diretora do Projeto de Safety Net na NNEDV (National Network to End Domestic Violence), fez uma palestra virtual sobre os meios para que sobreviventes de violência e provedores possam enfrentar situações de violência on-line de maneira adequada e segura, com o auxílio da tecnologia. “Há muitas formas em que a tecnologia pode ser usada para o bem e para aumentar a segurança. Ela pode criar espaços e facilitar oportunidades para sobreviventes ao oferecer recursos, apoio e cura, além de influenciar as normas sobre privacidade, igualdade e respeito”.
Para conferir essa e as demais edições do Fórum Fale Sem Medo, além dos conteúdos produzidos, acesse a página exclusiva https://www.forumfalesemmedo.com.br/ ou o evento completo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=3wkOqtd78pM