LIVE DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA DEBATEU AS DIRETRIZES DA DÉCADA INTERNACIONAL DE AFRODESCENDENTES

Regina Célia, gerente de Causas do Instituto Avon, foi a mediadora do evento, que faz parte do calendário de ações dos 21 dias de ativismo.

Nascer negro é consequência. Ser negro é consciência”. Com essa emblemática frase de Zumbi dos Palmares – líder quilombola brasileiro que é símbolo do Dia da Consciência Negra –, Regina Célia Barbosa, gerente de Causas do Instituto Avon, deu início à live “Uma década com mais consciência: por mais reconhecimento, desenvolvimento e justiça para os afrodescendentes”, realizada em 22 de novembro como parte das ações dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim das Violências contra Mulheres e Meninas. “Promover o respeito, a proteção e o cumprimento de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais às pessoas afrodescendentes, como reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, são alguns dos principais objetivos da Década Internacional de Afrodescendentes”, contextualizou Regina.

 

O período entre 2015 e 2024, proclamado pela Assembleia Geral da ONU como a Década Internacional de Afrodescendentes, permeou a fala de todos os convidados ao reforçar a urgência das cooperações nacional, regional e internacional para o pleno aproveitamento dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos de pessoas afrodescendentes, bem como sua participação plena e igualitária em todos os aspectos da sociedade.

 

Para Flávia Oliveira - jornalista e comentarista da GloboNews, colunista no Jornal O Globo e Rádio CBN e jornalista conselheira na Anistia Internacional Brasil, no CEERT, no Observatório da Favela, no Instituto Sou da Paz, entre outras organizações da sociedade civil -, nosso país tem convivido com uma série de violações de direitos fundamentais antes mesmo do ambiente atual de ataques às instituições democráticas. “Se por um lado a gente vive um momento de retrocesso no que diz respeito à ação do Estado, na direção de aplacar a desigualdade e as mazelas históricas, de outro vemos um ressurgimento no sentido da visibilidade das organizações da sociedade civil que é muito necessário, bem-vindo e urgente”, pontuou.

 

O resgate das tradições e ciências milenares das populações negras e indígenas, especialmente nos campos da saúde e espiritualidade, foi o ponto destacado por Rosimery Santos, bióloga sanitarista e coordenadora da Política de Saúde da População Negra do Recife. Para ela, o papel das parteiras tradicionais e das benzedeiras foi fundamental nas comunidades mais vulneráveis durante a pandemia, apesar de, desde o processo de escravização, a ciência voltada às especificidades dos afrodescendentes vir se perdendo. “Estamos fazendo um trabalho de imersão para entender que tipo de ‘pensar a saúde’ queremos nessas comunidades e que olhar é esse que o sistema de saúde nos oferta. Vamos para além do campo biológico, com as parteiras, abordando também a espiritualidade, fazendo um resgate das nossas rezadeiras e benzedeiras, para que a gente possa devolver a essas atividades seu lugar de fala”, explicou.

 

Arnaldo Sucuma, doutor em serviço social, pesquisador e professor da Escola Nacional de Saúde (ENS) de Guiné-Bissau, reforçou a importância da parceria entre Brasil e seu país de origem no desenvolvimento de projetos, bem como em debates como este, para o avanço das resoluções previstas no documento da Década Internacional de Afrodescendentes.  “A consciência negra não se dá só no dia 20 de novembro ou no mês de novembro, mas o ano todo. Precisamos, enquanto cidadãos do mundo, dar a nossa contribuição no combate ao racismo, à discriminação, à xenofobia e a todas as formas de intolerância”, afirmou.

 

Citando Martin Luther King, ativista político americano ganhador do Prêmio Nobel da Paz ao enfrentar o racismo por meio da resistência não-violenta, Emanoel Ceress encerrou o painel de debates. Ele, que é professor de inglês, atuou na Missão de Paz do Haiti pelas Nações Unidas, compõe o GT Understanding Domestic Violence e é parceiro do Instituto Maria da Penha, declamou parte do famoso discurso “I have a dream” (Eu tenho um sonho, em português), de Luther King, para reforçar o entendimento sobre o que é a consciência negra. “Esse sonho, esse credo, deve ser conhecido por todos. O verdadeiro significado da consciência negra é considerar as verdades como evidentes por si mesmas. Para as reivindicações, é necessário termos a educação como base e esses espaços, como o que o Instituto Avon está dando, em que podemos conversar e elaborar um pensamento. Tudo o que está sendo discutido aqui tem sido discutido em vários lugares, mas precisa sair do sonho e se concretizar. O momento é agora”, finalizou.

 

Para assistir à live na íntegra, acesse o canal do Instituto Avon no YouTube.