METADE DAS MULHERES BRASILEIRAS JÁ SOFRERAM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, APONTA MAPA DA VIOLÊNCIA

Nova atualização da plataforma também traz dados estaduais inéditos.

Metade das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica ao longo de suas vidas, mas parte delas ainda não se reconhece exatamente como vítima. O dado faz parte da primeira atualização do Mapa Nacional da Violência de Gênero, desenvolvido em parceria pelo Instituto Avon, o Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV) e o DataSenado, ambos do Senado Federal, e a Gênero e Número. Esta é a primeira vez, desde 2005, que a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher apresenta recortes estaduais, possibilitando uma análise mais aprofundada do cenário de diferentes territórios do país.

Entre os dados inéditos apurados a partir de entrevistas com mais de 20 mil mulheres, destacam-se:

  •  48% já passaram por alguma situação de violência doméstica e familiar;
  • 30% reconheceram a violência vivida e a nomearam como tal;
  • 18% ainda não se identificam espontaneamente como vítimas, mas quando apresentadas a situações específicas de violência doméstica, admitiram ter passado por elas – dado que indica que o número de brasileiras que sofrem violações é muito maior do que os registros oficiais.

Os dados apresentados pelo Mapa Nacional da Violência de Gênero mais uma vez mostram a situação alarmante da realidade vivenciada pelas mulheres no Brasil. Estamos diante de um cenário que exige uma resposta integrada e urgente por parte do setor público, do setor privado e da sociedade. Precisamos assumir o compromisso de enfrentar a violência contra a mulher, utilizando esses dados como um impulso para implementar estratégias mais eficazes e assertivas, bem como apoiar àquelas que precisam de nossa solidariedade e proteção”, afirma Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon.

 

Recortes estaduais

Apesar da incidência de violência doméstica ocorrer de maneira relativamente uniforme em todo o território nacional, a pesquisa identificou que estados da região Norte do Brasil, como Amazonas (57%), Amapá (56%), Rondônia (55%) e Acre (54%), atingem patamares ainda maiores do que os índices nacionais. A região Sudeste também chama atenção, com Rio de Janeiro e Minas Gerais, ambos com 53%.

O levantamento ainda mostra que aproximadamente 7 em cada 10 brasileiras conhecem alguém que sofreu violência doméstica. Esse índice é ainda maior nos estados das regiões Norte e Nordeste: cerca de 68% das brasileiras que afirmam terem uma amiga, familiar ou conhecida que já vivenciou agressões ou abusos em razão de gênero, com destaque para as tocantinenses (75%), acreanas (74%), amazonenses (74%), pernambucanas (72%) e alagoanas (72%).

Outro dado destacado pela pesquisa é a estimativa de mulheres que passam por violência doméstica ao longo da vida. De 40 milhões mulheres brasileiras, mais de 8 milhões paulistas e mais de 4 milhões mineiras já vivenciaram algum tipo de situação violenta.

A pesquisa com dados estaduais é um marco importante. Entrevistar mais de 21 mil mulheres e gerar resultados 100% probabilísticos, em estados com realidades tão diversas, foi um grande desafio superado com excelência pela equipe do DataSenado. Na análise dos resultados já ficou claro que ainda temos muito para avançar, que para chegarmos em respostas mais locais, precisamos de uma amostra ainda maior. No futuro, queremos que o diagnóstico seja ainda mais profundo. Sabemos que quanto mais nos aproximarmos dessa mulher, dessa vivência, maior será nossa contribuição. Além dos resultados estaduais, a questão da subnotificação é algo que está no radar o tempo todo. Ao olharmos para o que não está registrado, o que não é declarado, podemos encontrar possíveis falhas na comunicação do problema, seja por parte da mulher que sofre violência e não procura ajuda, seja por parte do Estado que ainda não atende às necessidades dessa mulher” destaca Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal.

 

Mapa Nacional da Violência de Gênero

Lançado em novembro de 2023, o Mapa Nacional da Violência de Gênero é uma plataforma interativa que reúne os principais dados nacionais públicos e indicadores de violência contra as mulheres do Brasil, incluindo a Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres -- a mais longa série de estudos sobre o tema no país. Dos dias 21 de agosto a 25 de setembro de 2023, 21.787 mulheres de 16 anos ou mais foram entrevistadas por telefone, em amostra representativa da opinião da população feminina brasileira.

Em um país continental como o Brasil, é fundamental a disponibilidade e a análise dos dados de violência de gênero por região e estados, porque eles podem trazer insights importantes sobre as barreiras de acesso e informação em cada território. Sem dados, não temos políticas públicas eficazes para o enfrentamento da violência contra mulheres”, destaca Vitória Régia da Silva, Presidente e Diretora de Conteúdo da Gênero e Número.